Por que perder é tão difícil? Entenda como seu cérebro funciona
- Lydiane Bragunci
- 6 de abr. de 2017
- 5 min de leitura
É provável que se você nunca tenha tido problemas com o seu peso você pense: “Perder peso é fácil! Basta que você coma menos e se exercite mais. Quem não consegue isso, fatalmente não tem força de vontade suficiente”. Mas se você é daqueles ou daquelas que passou uma vida inteira brigando com a balança, sabe que a frase acima não faz o menor sentido e está carregada de julgamento e falta de empatia.
Neste caso, tenho a certeza de que perguntas e conclusões como “Por que perder peso é tão difícil?” e/ou “Perder peso é fácil, difícil é manter o peso perdido” são as que permanecem no rol dos grandes mistérios da (sua) vida, rs!
Antes de falarmos melhor das ideias acerca desses questionamentos, dá uma olhada neste TED Talk da neurocientista americana Sandra Aamodt. Só vai tomar 12m38s do seu tempo e eu garanto que vai valer a pena:
E então, o que achou? Fez sentido pra você?
Se você vem acompanhando os textos publicados semanalmente aqui no nosso Portal, provavelmente já deve ter lido nosso texto que questiona se realmente as dietas são um caminho saudável para o emagrecimento. Se não leu ainda, clique aqui. Perceba que as reflexões trazidas sistematicamente aqui neste canal de comunicação concordam integralmente com as ponderações de Sandra Aamodt sobre a contribuição das dietas no aumento progressivo do peso corporal, englobando as razões evolutivas pra que isso ocorra.
Contribuindo também para o reforço do nosso posicionamento contra as dietas, diversos estudos científicos reforçam a ineficácia desta abordagem para perda de peso saudável e sustentável, como por exemplo a metanálise realizada por Mann e colaboradores (2007), que avalia 31 estudos conduzidos com intervenções dietéticas em os pesquisadores concluem que as dietas não são a resposta que buscamos para combater a epidemia de obesidade, em função dos resultados tímidos e inconsistentes encontrados nestas intervenções.
No mesmo contexto, um estudo longitudinal feito com 2000 pares de gêmeos, demonstrou que a implementação de restrições alimentares e dietéticas ao longo da vida contribuiu substancialmente para o ganho de peso dos indivíduos, quando comparados aos irmãos idênticos que nunca fizeram dietas (Pietilainen et al, 2011).
Ademais, os efeitos fisiológicos que desencadeiam o ganho de peso com a prática de dietas são abordados detalhadamente no estudo de Dullo e colaboradores (2015), nos levando à conclusão de que a prática de restrição e privação alimentar não apenas é ineficaz para a melhora da saúde e regulação do peso, como pode ainda modificar nossa composição corporal (aumento da proporção de massa gordurosa, em relação à massa muscular), além de promover prejuízos de ordem psíquica e emocional.
Diante disso, você vai me dizer, Ok, eu já entendi que as dietas não funcionam e já percebi na prática que nunca funcionou pra mim. Mas por que perder peso é tão difícil? Qual caminho devo seguir?
Primeiramente, é importante que você entenda que quem controla o seu peso e os seus sinais de fome e saciedade é o seu cérebro e não a sua vontade! O seu cérebro é muito mais brilhante do que você imagina. E assim como Sandra Aamodt menciona, não seria muito seguro à nossa sobrevivência se a parte consciente/racional do nosso cérebro controlasse parâmetros essenciais à vida como: temperatura corporal, a respiração, a regulação hormonal, o sono, fome e saciedade. A parte do cérebro responsável por tudo isso fica bem na região central da nossa cabeça, denominada hipotálamo. É o hipotálamo que regula o peso (ou a faixa de peso) determinado como adequado à nossa fisiologia. A esse peso chamamos de peso de equilíbrio, ou em inglês, setpoint.
É esse setpoint que nos mantém vivos e saudáveis, e todas as vezes que perdemos peso, e se especialmente o fizermos de forma rápida (como por exemplo numa dieta restritiva), uma espécie de alerta interno soará no corpo, no sentido de recuperarmos este peso. Assim, a fome aumenta (em função da maior excreção de hormônios da fome), o metabolismo de repouso reduz o gasto energético (afinal, ele entende que precisa poupar energia, pois pode faltar), a preferência por ingerir doces e carboidratos em geral fica aumentada (em função da maior liberação de um hormônio chamado NPY), já que eles são nossa fonte mais imediata de energia. São recursos emergenciais para que o equilíbrio se reestabeleça.
E então? Compreendeu que você não falhou na dieta porque é fraco(a), mas porque seu cérebro orquestrou tudo para que você parasse de ameaçar seu corpo?
Por causa desse mecanismo de sobrevivência é que você pode estar vivendo eternamente em luta contra a balança! E quanto mais você lutar contra o seu cérebro, acredite, fica cada vez mais difícil perder peso.
Entenda que tudo isso só existe porque a sua vida, a sua saúde é mais importante do que a sua aparência e a necessidade de correspondermos a um padrão estético determinado socialmente. Sabe aquela frase que costumamos dizer rotineiramente: “Seu corpo é um instrumento e não um ornamento”? Veja como ela é respaldada pela ciência do nosso cérebro!
Assim, as minhas recomendações para que você passe a viver mais em paz com o seu cérebro e com a balança são: 1. Conscientize-se de que é o seu cérebro é quem controla tudo e não você! Sendo assim, fome existe pra ser respeita e não controlada ou negligenciada. Quando estiver com fome, coma ao invés de se julgar ou de se amedrontar com o julgamento alheio. 2. Abandone a ideia de que seu corpo não é adequado! Seu corpo é perfeitamente adequado às suas necessidades biológicas e sempre vai ser. Confie nisso! 3. Quando for se alimentar, coma de forma consciente, pausadamente, atento(a) aos seus sinais internos de fome e saciedade. Sinta as sensações que o alimento proporciona ao seu corpo. E se tiver dúvidas de como fazer isso é só ler esse nosso texto aqui. 4. Desvincule a necessidade da perda de peso à sua condição para a felicidade. Essa é uma mentalidade altamente vendável pela mídia e que está arruinando a sua relação com o seu corpo. Quanto maior a sua pressão e pressa para emagrecer, maior a luta que você trava com seu corpo/ cérebro, o que te mantém num ciclo interminável de privação, fracasso, culpa, insatisfação, nova privação.... e por aí vai...
E, por fim, conte com a ajuda de profissionais especializados para te apoiar neste processo de voltar a se entender com seu corpo e cérebro, a fim de que você se liberte de pensamentos que te aprisionam nesta vida de dietas e insatisfação corporal. Você não precisa dar conta de tudo sozinho(a)!

Nutricionista Comportamental em Belo Horizonte
Referências:
Mann et al. Medicare's Search for Effective Obesity Treatments: Diets Are Not the Answer. American Psychologist, 62(3), 2007.
Pietilainen et al. Does dieting make you fat? A twin study. International journal of obesity. 36(3):456-64. 2011
Dullo AG, et al. How dieting makes some fatter: from a perspective of human body composition autoregulation. Proceedings of the Nutrition Society (2015).
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