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Que tal pensar em “como eu como” ao invés de “o que eu como”?

Você já parou para prestar atenção por apenas um minuto nos estímulos envolvidos no seu ato de comer?

Um trabalho publicado por STRAPASSON e DITTRICH (2008), investiga o conceito de “prestar atenção”, segundo Skinner :

(...) “A atenção que é capturada por estímulos atrativos deve ser distinguida da atenção que é prestada”. Apenas a última precisa ser aprendida. Olhar e escutar são formas de comportamento, e elas são fortalecidas por reforçamento. Um pombo pode aprender a comparar cores, por exemplo, apenas se ele “prestar atenção a elas”. O experimentador garante que ele o faz, não atraindo sua atenção, mas reforçando-o por olhar.” (Skinner, 1961/1999c, p. 237)

Analisando o olhar de Skinner sobre o “prestar atenção”, podemos fazer uma reflexão sobre o nosso comportamento alimentar. Será que o ato de se alimentar, está somente relacionado ao prestar atenção à escolha do tipo de alimento, como temos feito nos últimos anos? Será que somente o “o que eu como” é que tem sua importância no processo de se nutrir? Será que não estamos precisando direcionar o “prestar atenção” também ao “como eu como” e começar a olhar, “escutar”, me manter atento aos estímulos envolvidos na hora de comer, exercitando também o reforço deste comportamento? Não seria a busca do entendimento de que a atenção voltada aos estímulos do COMO COMER a chave para a compreensão dos comportamentos que podem influenciar e até mesmo modificar o olhar que temos frente à comida?

Neste contexto, você já se perguntou se come chocolate ou se manda chocolate pra dentro? É bem provável que sua resposta para esse questionamento deva ter sido: “Claro que COMO chocolate!” Mas eu posso lhe afirmar que nem todas as vezes que você ingere o chocolate você está “prestando atenção” a ele.

Que tal começar a analisar a sua própria alimentação observando COMO você come? Comer com voracidade, no reflexo de “mandar comida para dentro” é diferente de “comer”’ e desfrutar de todo o prazer que comer pode proporcionar.

A essa forma de comer, prestando atenção “ao como você come”, podemos chamar de comer com atenção plena ou mindful eating. Comer com atenção plena é comer prestando atenção, explorando principalmente nossos cinco sentidos corporais e nossas percepções físicas que envolvem nosso mecanismo de fome e saciedade.

Atenção plena é a tradução mais aceita para Mindfulness (do qual deriva o conceito do comer com atenção plena) e que pode ser considerado um princípio de vida, podendo ser praticada em quase tudo o que fazemos, inclusive comer. Atenção plena é definida como a capacidade intencional de trazer a atenção para o momento presente, sem julgamentos ou críticas, com atitude de abertura e curiosidade. Não julgar o alimento é essencial ao desenvolvimento do comer com atenção plena.

O comer com atenção plena necessariamente põe o indivíduo em contato com o sabor, a textura, o aroma e até mesmo os sons produzidos pelo alimento, permitindo que se tenha uma atitude de descoberta frente às respostas que são produzidas pela comida.

Outra característica do comer com atenção plena, é substituir a culpa e a vergonha, por respeito à comida, é também não categorizar os alimentos entre bons e ruins. É deixar aflorar e observar quais as sensações, sentimentos e pensamentos são produzidos enquanto se come. As pessoas são diferentes, apresentam reações diferentes, e é somente ao se olhar para a experiência individual com a comida que se pode classificar o que se comeu como bom, ruim ou neutro.

Dessa forma, comer com atenção plena vai muito além do comer devagar, prestando de fato atenção ao que se está comendo. Comer com atenção é ser expert em você mesmo, se conectando com a sua sabedoria interna, para que ela te guie na suas escolhas alimentares de modo que se satisfaça a fome física e a fome emocional (ALVARENGA et al, 2015).

E então, como você está comendo?

REFERÊNCIAS

ALVARENGA, Marle et al. NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL. Barueri, SP: Manole, 2015.

STRAPASSON, Bruno Angelo; DITTRICH, Alexandre. O conceito de "prestar atenção; para

Skinner. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 24, n. 4, p. 519-526, Dec. 2008 . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

37722008000400016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 07 Fev. 2017.

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722008000400016 .

SKINNER, B. F. (1999c). Why we need teaching machines. Em B. F.

Skinner. Cumulative record (pp. 217-239). Acton, MA: Copley Publishing Group.

(Trabalho original publicado em 1961)

Nutricionista Comportamental em Colatina e Vitória (ES)

Colaboradoras

Organizadoras

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