Dá pra ser feliz sem estar no padrão de beleza?
- Ariele Sousa
- 27 de mar. de 2018
- 4 min de leitura
Você já se perguntou porque há tanta intolerância ao corpo que está fora do padrão de beleza? É bem frequente presenciar pessoas julgando, criticando e apontando os "defeitos" do corpo alheio. Será que realmente precisamos nos encaixar em um padrão para nos sentirmos bem?

Mas porque sofremos tanto com essas críticas?
Amanda Dabéss, historiadora e pesquisadora em Patrimônio Cultural e costumes alimentares, também concorda que a sociedade é totalmente intolerante com o corpo que está fora dos padrões ditados pela indústria e pelos meios de comunicação. Inclusive, eu também percebo que até alguns pacientes relatam que até os profissionais de saúde manifestam essa intolerância por meio de críticas. Esse tipo de postura com certeza contribui para a não adesão ao tratamento, além de gerar insatisfação, tristeza e infelicidade.
Todos nós, sofremos com o que a mídia dita, em especial, os padrões de beleza necessários para atingir a "felicidade" (Shimidtt, 2008; Knopp, 2008). A mídia, a indústria da moda e as revistas dizem que o corpo magro está associado à beleza, "saúde", sucesso e felicidade, sendo elementos inerentes e que jamais poderíamos viver sem (Knopp, 2008). Segundo Amanda, a mídia e a imagem digital têm muita influência na vida das pessoas, o que faz com que elas gastem tempo e dinheiro em busca de uma imagem que não corresponde à própria estrutura corporal.
Mas, na verdade, todo o marketing que é vendido além de ser inalcançável, não representa os corpos reais. Será que todos que não pertencem a esse padrão, são de fato doentes, sem sucesso, e ou infelizes? É o que somos levados a acreditar. E assim, a maioria das pessoas tenta de qualquer forma se enquadrar e acompanhar as exigências de beleza (Shimidtt, 2008). As próprias modelos das capas de revista sofrem por insegurança, problemas ou até desenvolvem transtornos alimentares e psicológicos para terem o corpo que têm, afirma a historiadora. Observa-se também que adolescentes arriscam suas vidas, fazem cirurgias precocemente para se sentirem bonitas e não se sentirem excluídas desse padrão (Shimidtt, 2008).
O tamanho e a forma do corpo têm um grande valor econômico para o mercado da beleza, que considera o corpo um grande valor pessoal (Knopp, 2008; Foxcroft, 2013). O corpo tornou-se uma mercadoria social da mesma forma que qualquer outro produto com valor de troca. Um corpo dentro do padrão torna a pessoa aceitável socialmente e mais valorizada, enquanto que aqueles que não conseguem alcançar esse padrão imposto são rotulados, menosprezados e de menos valia (knopp, 2008).

Então como viver em uma sociedade que valoriza tanto esse padrão?
Aqui temos uma reflexão: se vivemos em uma sociedade diversificada, com tantos tipos de corpos (um estudo que vem sendo realizado pelo SENAI desde 2008 já avaliou as medidas de mais de 7 mil mulheres e homens brasileiros e já encontrou pelo menos 27 tipos de corpos!), como poderiam todos usufruir do mesmo formato de corpo? Será que vale a pena perseguir um corpo que pode não ser o seu geneticamente? O quão cruel isso é conosco?
Mas, como agir diferente? Aceitar sua genética e ter uma boa relação com o corpo pode não ser uma tarefa fácil, principalmente para nós mulheres, que sempre fomos ensinadas a seguir esse padrão de geração após geração, coloca a historiadora. Por isso, enquanto não encontramos uma fórmula ou solução para isso, só vamos nos libertar disso se vivermos remando contra a maré", contempla Amanda.
O movimento da auto aceitação é uma boa maneira de começar essa remada contra a maré. É um movimento que tem crescido, e ajudado muitas mulheres a criarem um relacionamento diferente com seus corpos. Porém, é sempre importante lembrar que, embora o nome seja interpretado como se amar incondicionalmente, a auto aceitação não é um sentimento de amor que pode ser forçado de dentro para fora. Na verdade, a auto aceitação é uma atitude neutra, de simplesmente entender que não há nada de errado com seu corpo.
Sim, a verdade é que nenhum corpo é errado, e os corpos foram realmente desenhados para serem diferentes. É o que nos faz único. Cada corpo é único.
Mas como começar? Perceber o quanto o seu corpo faz por você (já percebeu como ele te permite andar, respirar, abraçar, dançar, trabalhar, repousar?) pode ser uma estratégia libertadora! Concentre-se nas qualidades do seu corpo e saiba valorizar o que ele tem, porque é ele que irá lhe proporcionar os meios de sobrevivência. Tome a decisão de começar, pouco a pouco, a olhar para ele com olhos mais compassivos.
Seu corpo é a sua casa, é isso que importa, finaliza a historiadora.
Referências:
FOXCROFT, L., BORGES, L.C. A tirania das dietas: dois mil anos de luta contra o peso. São Paulo: Três Estrelas, 2013.
KNOPP, GC. A influência da mídia e da indústria da beleza na cultura de corpolatria e na moral da aparência na sociedade contemporânea. Salvador, 28 mai, 2008.
SHIMIDTT, A. et al. O mercado da beleza e suas consequências. UNIVALI, Santa Catarina, RS, 2008.
http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/07/pesquisa-do-senai-define-os-padroes-de-medidas-do-corpo-dos-brasileiros.html
Comments