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É normal odiar nossos corpos? Por que a aceitação é importante no processo de fazer as pazes com a c

  • Haryni Costa
  • 13 de abr. de 2017
  • 5 min de leitura

Que tal irmos direto ao ponto e respondermos prontamente à primeira questão?

Se avaliarmos o significado da palavra NORMAL, podemos chegar a duas respostas distintas.

A primeira definição diz “conforme a norma, regra, regular, usual, comum”. Segundo este sentido, odiar os nossos corpos pode ser considerado sim algo normal, por ser algo recorrente e regular, especialmente entre as mulheres. Segundo a autora Louise Foxcroft:

“Durante o último século, nossa preocupação em perder peso aumentou, tornando-se uma neurose nacional. Temos uma aversão comum à gordura – uma repulsa estética, que não deve ser confundida com preocupações com a obesidade e a saúde, ainda que estas frequentemente se combinem – e para completar, ainda temos uma indústria de emagrecimento multimilionária.” (Foxcroft, Louise - A Tirania das dietas, 2011).

Entretanto, se avaliamos a segunda definição da palavra NORMAL como “o que é natural”, concluiremos que não, não faz parte da nossa natureza odiarmos nossos corpos, que nada mais são que a parte material e concreta, a expressão do que somos.

Por isso, é importante que você entenda que, apesar de parecer normal, não é natural que nos depreciemos excessivamente, que sintamos vergonha e infelicidade por tentar e não conseguirmos ser a criatura ideal que nossa sociedade deseja. Nós fomos ensinados(as) a sentir isso. E o mais curioso disso tudo é que:

Quanto mais envolvido(a) na busca pela “beleza” você estiver, pior você irá se sentir” (Paola Altheia – E-book Não Sou Exposição)

Tudo isso acontece porque a lógica de consumo global, que engloba a mídia e as indústrias da estética, alimentícia e do emagrecimento, te influenciaram de tal forma que seu senso de identidade passa a ser profundamente ligado ao seu aspecto físico.

Basta pensarmos que, por volta do século XIX, homens e mulheres com excesso de peso eram considerados como padrão de beleza e fertilidade vigente, uma vez que o alimento era acessível em abundância apenas para aqueles detentores de poder, dinheiro e algum prestígio social (CASTRO, 2010). Porém, ao longo dos anos, à medida que a oferta de alimentos de democratiza e sedentarismo aumenta, em função dos avanços tecnológicos e, juntamente a esses fatores, eleva-se o peso da população em geral, observa-se a evolução sistemática do modelo de beleza para um corpo cada vez mais magro (ou extremamente magro). Tal fato nos faz ter a certeza de que o padrão de beleza é sempre contra hegemônico (contrário do que se observa na maioria da população), por razões puramente mercadológicas. Uma nova moral, da "boa forma", exigindo dos indivíduos o controle da sua aparência física vem se instalando e cobra-se a magreza dentro de um ideal estético cada vez mais difícil de atingir.

Ademais, o aumento da busca incessante pelo corpo perfeito é acompanhado pelas frustrações causadas pela falha dos métodos de emagrecimento, baixa autoestima e a constante depreciação do corpo. Este cenário, apesar de parecer algo recente, um problema contemporâneo já vinha sendo apontando pela autora Susie Orbach em 1978:

“Nos Estados Unidos, estima-se que 50% das mulheres estejam acima do peso. Toda revista feminina tem uma coluna sobre dietas. Médicos e clínicas voltados para regimes prosperam. Os nomes de produtos dietéticos são agora parte do nosso vocabulário geral. Boa forma e beleza física são objetivos de todas as mulheres, embora essa preocupação com a gordura e a comida tenha se tornado tão comum que tendemos a aceitá-la sem discutir. Ser gorda, sentir-se gorda, e sentir a compulsão para comer em excesso são, na verdade, experiências sérias e dolorosas para as mulheres envolvidas” (Orbach, Susie - Gordura é uma questão feminista, 1978)

O trecho retratado acima lhe parece familiar? A busca pela aceitação/aprovação social tem desestimulado a autoaceitação, contribuindo cada vez mais para a nossa desconexão com a comida, uma vez que passamos a valorizar métodos rápidos e milagrosos na busca pelo corpo ideal, sustentando a falsa ideia de que resistir aos alimentos resultará no triunfo da beleza e do corpo perfeito.

O que ninguém põe em capas de revistas por aí: É que ninguém é perfeito!

Não seria interessante então começarmos a nos aceitarmos com as nossas imperfeições, buscando o exercício constante de reconhecimento também os nossos valores e potencialidades?

Fazer as pazes com seu corpo, passar a tratá-lo com mais amor e respeito, “receber com agrado”, com gratidão, o conjunto de órgãos, sistemas, células que nos possibilitam executar as tarefas cotidianas. Em síntese: a aceitar-se em sua inteireza é um caminho muito promissor para que você comece a fazer as pazes com a comida e com seu corpo.

Diante de tudo o que foi exposto e antes que você pense que autoaceitação tem a ver com um sentimento de desistência de si mesmo(a), reproduziremos parcialmente aqui a reflexão que a nutricionista Nathália Petry fez esta semana em suas redes sociais que vale muitíssimo a pena repetir:

"Aceitação não é sobre se forçar a se achar linda. Mas sobre se questionar sobre o porquê você não vê beleza em si.

Talvez valha a pena perceber que a categorização de beleza é algo que parte de uma comparação. Sim, quando consideramos algo como belo (ou feio), é porque temos um parâmetro de comparação em nossa mente. Dessa forma, ao ditarmos um corpo como feio, é porque estamos o comparando com algum referencial do que deveria ser um corpo belo. Faz sentido?

Talvez a aceitação corporal não seja sobre se forçar a se achar linda a todo custo. Mas em se questionar quais são os parâmetros de corpos que povoam sua mente.

Talvez seja sobre se dar conta de que há estatísticas que colocam que os padrões de beleza atuais (corpo magro, branco, longilíneo) representam apenas 1-2% da população mundial. E que talvez estes padrões não te representem. Isso é uma questão genética.

E não é uma questão de disciplina, ou força de vontade. A sociedade nos diz que nós podemos mudar nossos corpos como quisermos (lembre-se que nessa busca por essa mudança, provemos bastante energia e dinheiro para várias indústrias), mas isso não é verdade.

Vamos ilustrar. Imagine os cachorrinhos. Cada um tem uma raça, um formato, um estilo... O quão angustiante seria a vida de um poodle se ele vivesse buscando ser um pastor alemão?

E a pergunta: o quão difícil e angustiante tem sido a sua vida buscando ter um corpo que não necessariamente é o seu?

Talvez aceitação corporal seja sobre entender que todos temos uma genética. Que somos diferentes, porque fomos especialmente desenhados para sermos diferentes uns dos outros.

Talvez a aceitação corporal não seja sobre se forçar a ver linda. Mas se questionar diariamente porquê não conseguimos enxergar a beleza que existe em cada uma de nós.”

Se você deseja se exercitar a autoaceitação, propomos ainda um exercício sugerido em outro texto do nosso Portal neste link.

Nutricionista Comportamental em Belo Horizonte (MG)

Referências e sugestões de leituras para aprofundamento no assunto:

O Mito da Beleza – Wolf, Naomi. 1992 – Ed. Rocco

A Tirania das Dietas – Foxcroft, Louise. 2013 – Ed. Três Estrelas.

Gordura é uma questão feminista – Susie Orbach. 1978 –

E-book NSE – Paola Altheia (https://naosouexposicao.wordpress.com/)

 
 
 

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