top of page

A beleza que não se compra

  • Ariele Sousa
  • 23 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

Neste texto discutido aqui no Portal, percebemos que o padrão de beleza passou por diversas mudanças ao longo dos tempos, e que o conceito de beleza não é estático. Mas por que será que eles mudam? Qual seria o interesse por trás dessas modificações?

O estudo de Oliveira (et al, 2010) coloca que o padrão de beleza auto imposto pela sociedade, atualmente o do corpo magro e musculoso, é sempre biologicamente impossível de ser alcançado para a maioria da população. E de forma potencializada pela mídia, para se encaixar nesse padrão de beleza, além de ser necessário ter força, foco e fé, as pessoas precisam investir tempo e dinheiro em os produtos e serviços que prometem o corpo idealizado (Flor, 2009).

Os autores Knopp (2008) e Shmidtt (2008) relatam que nos últimos anos a procura por dietas restritivas, cirurgias estéticas, exercícios físicos cresceu rapidamente. Essas inúmeras opções de produtos e serviços disponíveis hoje no mercado são resultado da demanda crescente de produtos que prometem alcançar o padrão de beleza (SHMIDTT et al, 2008). Como muitas destas medidas tomadas para satisfazer as exigências de um padrão de beleza específico demandam investimento financeiro, vemos que os padrões de beleza acabam fazendo parte de um cenário de status social. Ou seja, o padrão de beleza é representado pela magreza e riqueza.

Aqueles que não se dispõem de tantos recursos financeiros são pressionados a encontrar maneiras para se encaixar nos estereótipos auto impostos pela sociedade, pela mídia e pela indústria (FLOR, 2009; OLIVEIRA et al, 2010). Aqui, dietas extremamente restritivas, divulgadas por revistas e outros meios midiáticos, têm se mostrado o mecanismo utilizado por uma boa parcela da população.

As dietas restritivas e proibitivas são vendidas como soluções rápidas, para a perda de peso. Porém, segundo a Nutricionista Sophie Deram, Doutora e pesquisadora da USP, cerca de 95% das pessoas que emagrecem fazendo dieta restritiva retornam ao peso original ou engordam ainda mais. Louise (2013) em seu livro A tirania das dietas relata que a indústria te faz pensar que você é um fracassado por ter ganhado peso e te oferece mais uma "chance" dando mais uma nova dieta para você tentar e fracassar novamente. Mas a verdade é que as dietas trazem resultados a curto prazo e fracassos a longo prazo (se os resultados duram pouco, será que podemos chamar de resultados?), fazendo a indústria crescer e lucrar cada vez mais com o crescimento da obesidade. Levinovitz (2015), em seu livro A Mentira do Glúten, comenta que a recidiva do ganho de peso é o maior gerador de lucro para a indústria da dieta. Foxcroft (2013) ainda comenta que as diversas dietas da moda são, na verdade, uma releitura de dietas já lançadas no passado, apenas mudam o nome. Aqui temos o exemplo da dieta da proteína divulgada amplamente há alguns anos, e que na verdade era uma releitura da dieta de Banting, lançada em meados de 1862.

Segundo Foxcroft (2013), a indústria da dieta faz parte de um sistema que escraviza a autoestima e de uma guerra interminável contra o corpo, gerada pela auto rejeição. E o corpo torna-se um dos valores mais importantes, como se fosse uma mercadoria ou um objeto que pudesse ser concertado (KNOPP, 2008; OLIVEIRA et al; 2010).

Tentar se encaixam num padrão que evolui de tempos em tempos é uma boa maneira de perder dinheiro e saúde, não perder peso. E também é uma boa maneira de tornar a indústria da dieta e da beleza cada vez mais bilionária. (FOXCROFT, 2013).

Referências: FLOR, G. Corpo, mídia e status social. Rev. Estud. Comum., Curitiba, v.10, n.23, p.267-274, set/dez. 2009. FOXCROFT, L., BORGES, L.C. A tirania das dietas: dois mil anos de luta contra o peso. São Paulo: Três Estrelas, 2013. DERAM, S. http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2014/12/1565364-fazer-dieta-so-serve-para-engordar-mais-ainda-diz-nutricionista-da-usp.shtml KNOPP, GC. A influência da mídia e da indústria da beleza na cultura de corpolatria e na moral da aparência na sociedade contemporânea. Salvador, 28 mai, 2008. OLIVEIRA, L.L; HUTZ, C.S. Transtornos alimentares: o papel dos aspectos culturais no mundo contemporâneo. Psicol. estud. Maringá, v.15; n.3; sept. 2010. SHIMIDTT, A. et al. O mercado da beleza e suas consequências. UNIVALI, Santa Catarina, RS, 2008. SIQUEIRA, D.C.O., FARIA, A.A. Corpo, saúde e beleza: representações sociais nas revistas femininas. Com. Mid. Cons. São Paulo, v.4; n.9; p.171-188. Mar., 2007. LEVINOVITZ, A. A mentira do glúten e outros mitos sobre o que você come. 2015.


 
 
 

Comments


Colaboradoras

Organizadoras

bottom of page