Alimentação Intuitiva emagrece?
- Nathalia Duval
- 30 de nov. de 2017
- 4 min de leitura
Recebo semanalmente muitas mulheres em meu consultório colocando que estão cansadas de fazer dieta, que não sabem mais o que fazer para emagrecer e que gostariam de seguir um caminho diferente: o da Alimentação Intuitiva. Mas a grande dúvida que surge é: a Alimentação Intuitiva vai ajudar na perda de peso?
Diante disso, seguem alguns pontos para refletirmos:

1. Por que eu quero emagrecer? Você já parou para pensar sobre os motivos que a levam para essa busca? Não é de hoje que muitas mulheres lutam para atingir padrões irreais de beleza impostos pela mídia e pela sociedade. Padrões esses, que, normalmente, associam determinado corpo a saúde, felicidade e bem-estar. Além disso, receber comentários depreciativos em relação a sua forma física, vindos de pessoas do seu convívio, pode contribuir ainda mais para a sua insatisfação corporal. Então eu questiono: por que você está em guerra com o seu corpo? Será que você não está forçando-o a assumir uma forma que não é a mais saudável para ele? Por que você quer emagrecer, é por alguma questão sua ou é para agradar alguém?
2. O caminho que tenho seguido até então tem me ajudado a emagrecer? Há milhares de anos os nossos ancestrais lidavam frequentemente com a falta de comida, pois ela não estava disponível o tempo todo. Portanto, a gordura corporal funcionava como uma proteção e até hoje essa característica está presente nos nossos genes. Ao se deparar com uma situação de escassez de alimento (através de uma dieta restritiva, por exemplo), o corpo não entende que é uma ação voluntária e ativa uma série de mecanismos de proteção, pois vê isso como uma agressão, um estresse. Então seu apetite fica aumentado, você pode ter desejos obsessivos por determinados alimentos e seu metabolismo diminui (Deram, 2014; Tribole e Resch, 2012). Portanto, talvez a realização de dietas não esteja te levando para o caminho do emagrecimento, mas o contrário. Já pensou nisso? Já falamos sobre isso aqui.
3. O que, de fato, o peso significa? O valor do peso corporal é composto pela massa gorda, que é a gordura que temos no corpo, e massa magra, que é o conjunto formado por músculos, órgãos, ossos, sangue e demais líquidos corporais. E o IMC (índice de massa corporal) é um cálculo que relaciona o peso com a altura. Porém, ambos são números que não devem ser utilizados isoladamente para avaliar a condição de saúde de um indivíduo, uma vez que não levam em conta diversos outros aspectos relevantes (Ministério da Saúde). Ser saudável é muito mais do que estar com o IMC classificado como normal, pois uma pessoa pode estar com o peso adequado pelo IMC, ter uma alimentação variada e ainda assim ter diabetes, por exemplo (Ministério da Saúde). É importante ressaltar que o peso é um dado clínico, assim como o valor da sua pressão ou da sua glicose, ou seja, você não tem controle de nenhum deles. Portanto, como o peso não é um comportamento, ele não é o foco principal do tratamento direcionado à mudança comportamental (Alvarenga, 2015). Conforme a autora Sophie Deram (2014) o peso é consequência de uma saúde equilibrada e bem estar. Portanto, engordar é uma consequência de que algo na sua vida estava em desequilíbrio, pois para se proteger das agressões seu corpo se desregulou e reagiu dessa forma. E de acordo com Tribole e Resch (2012), seu peso atual também pode ser resultado da desconexão com a sua sabedoria interna para comer, ou seja, com os seus sinais de fome e saciedade, fazendo com que você se alimente em excesso.
4. Meu peso está muito aumentado: como a Alimentação Intuitiva pode me ajudar nisso? A Alimentação Intuitiva irá guiar o seu processo de reconexão com o corpo (conforme já abordamos aqui – link para o texto Alimentando a Intuição: saudável é saber se ouvir) e é provável que a médio / longo prazo você possa retornar ao seu peso saudável e natural, que pode ser menor do que o seu peso atual e estabilizar (Tribole e Resch, 2012). É importante destacar que esse peso é o que o seu corpo considera saudável para ele, mas que talvez não seja aquele número que você tanto almeja ver na balança. Porém, as autoras do método ressaltam que a questão do emagrecimento deverá ser colocada em segundo plano, pois do contrário isso poderá interferir na sua habilidade de fazer escolhas alimentares baseadas nos seus sinais internos, atrapalhando no processo de reconexão com o corpo. Além disso você poderá sentir-se frustrado e desmotivado ao não perceber resultados imediatos na balança, já que isso dificilmente ocorrerá (lembre-se: a diminuição do peso poderá ocorrer como uma consequência do processo, ao longo do tempo). Portanto, o segredo é reconhecer as pequenas mudanças ao logo do caminho na sua relação e comportamento diante da comida e com o seu corpo, além de valorizar os aprendizados diante das dificuldades que podem surgir ao longo do percurso da aprendizagem da Alimentação Intuitiva.
Por isso, seja seu grande aliado: confie mais no seu corpo e cuide bem dele!
Referências ALVARENGA, MARLE et al. NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL. Barueri, São Paulo, Manole, 2015. DERAM, SOPHIE O PESO DAS DIETAS, Editora Sensus, 2014. Ministério da Saúde - Só o IMC não diz como você está. Disponível em http://portalsaude.saude.gov.br/dicas-de-saude/so-o-imc-nao-diz-como-voce-esta.html , acessado em 27/10/2017. TRIBOLE, EVELYN; RESCH, ELYSE INTUITIVE EATING, 2012.
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