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Como a introdução alimentar pode incentivar ou atrapalhar o bom relacionamento da criança com a comi

  • Débora Fadoni
  • 7 de dez. de 2017
  • 5 min de leitura

Imagine um bebê e seu primeiro contato com um alimento diferente do leite materno ou fórmula infantil... Deve ser estranho, né? De fato, a introdução alimentar é um momento delicado e cheio de novidades para um bebê que até então só conhecia um tipo de alimento e um tipo de textura.

A inserção de alimentos na vida de bebê não é apenas a inclusão de mais uma fonte de nutrição, mas também a vivência de uma nova fonte de prazer sensorial, a inclusão de um fator cultural e a participação de momentos sociais. Quero dizer, comer não é só se nutrir, comer envolve prazer, significado, memória, lembranças, tradições e tudo isso começa quando ainda somos bebês.

Existem evidências que mostram que o modo como as crianças são alimentadas quando elas ainda são bebês interfere no modo como elas se relacionarão com a comida durante sua infância, e até mesmo durante a vida adulta. A preferência alimentar, que é uma característica pessoal, pode ser influenciada pelas atitudes dos pais ou cuidadores em relação á comida e também pelo ambiente e momento (que pode ser agradável ou não) em que a refeição é oferecida (NEUMARK-SZTAINER, 2005). E a aversão e menor consumo de alimentos pode ser influenciada pela pressão e insistência para o consumo de determinados alimentos.

Assim, durante a introdução alimentar, é importante se perguntar: como você quer que seja a relação do seu filho com a comida durante a vida dele?

Seguem algumas orientações para que esse momento possa proporcionar aprendizado e uma experiência positiva para o bebê:

1) Pense no momento das refeições como um todo.

O ambiente proporcionado pela família pode influenciar diretamente no que as crianças vão comer. Estudos indicam que a preferência por certos alimentos é adquirida quando eles são consumidos em momentos agradáveis.

Pense nos seus alimentos preferidos. Agora pense nos momentos em que eles são consumidos. Geralmente nossos alimentos preferidos são aqueles que comemos em momentos agradáveis. Vou dar um exemplo para ilustrar: eu amo nhoque com molho bolonhesa, tenho memórias da família reunida no domingo, minha avó fazendo a massa, eu a ajudando a cortar as tiras de massa para fazer os nhoques, o cheiro do molho cozinhando na panela, minha família reunida, todos felizes... Enfim, para mim nhoque bolonhesa não é só uma comida, são lembranças lindas e afetivas de momentos muito agradáveis e com certeza isso ajudou a definir essa minha preferência alimentar. Assim, faça o momento da refeição um momento feliz e agradável para que a criança associe a comida á algo bom e não a um momento chato de estresse e tensão.

2) Tenha calma.

A introdução alimentar é um momento que pode gerar muita expectativa para os pais e nem sempre tudo ocorre como se espera. Alguns bebês demonstram muito interesse pelos alimentos e gostam desse momento de descoberta, mas também existem aqueles que precisam de mais tempo para se adaptar a essa nova etapa, e isso pode gerar uma ansiedade e angústia nos pais, tornando o momento de refeição cheio de tensão e estresse

Então, calma! As refeições são momentos de aprendizado, e cada um tem o seu tempo. Encare esse momento com paciência e tente não se estressar ou deixar transparecer muita tensão.

3) Dê o exemplo.

Consumir os mesmos alimentos que estão sendo oferecidos para o bebê vai gerar mais segurança e mais interesse nele por aquele alimento. Então ao invés de dar a refeição para o bebê em um horário diferente do horário da família, colocar o bebê para comer junto com a família, no mesmo horário, é uma estratégia muito interessante.

4) Sim, vai ter sujeira!

Permita que seu bebê tenha mais autonomia. Deixe ele colocar a mão, sentir a textura dos alimentos, brincar, explorar e fazer uma bagunça. Ele vai adorar esse momento! Essa exploração do mundo dos alimentos com as mãos e guiada pelo bebê faz parte da abordagem de introdução alimentar Baby Led Weaning (BLW). Descrita por Gill Rapley, essa abordagem permite que a criança faça suas próprias descobertas em relação á comida e consuma quantidades de acordo com suas necessidades. No BLW, o bebê é o protagonista da sua alimentação e tem muita autonomia, o que contribui para um comportamento positivo com a comida.

5) Não force a comer.

Pressionar ou forçar o bebê a comer determinado alimento pode ser um tiro pela culatra, e gerar aversão á aquele alimento ou menor consumo. Alguns estudos como os de Batsell (et al, 2002) e Galloway (et al, 2006), mostram que a pressão dos pais para que os filhos comam determinados alimentos não leva a criança a apreciar o alimento e acaba produzindo um efeito inverso, de menor consumo ou até mesmo de aversão.

6) Confie no bebê!

Confie nos instintos de fome e saciedade da criança, não a forçando a comer sem fome ou se já estiver satisfeita. O bebê tem essa percepção de fome e saciedade muito aguçada e sabe o momento em que está satisfeito. Respeite e confie na saciedade dele, não insistindo para que ele coma, por achar que ele precisa comer mais. Acredite, ele sabe quanto ele precisa comer. (FOMON, 1993)

7) Oferta variada!

Ofereça alimentos variados, naturais e coloridos. Abuse das frutas, legumes, vegetais, grãos, cereais. Se a criança recusar, ofereça novamente em outro dia, às vezes os bebês precisam experimentar varias vezes o mesmo alimento, para aceita-lo. Ofereça os alimentos sem misturá-los para o bebê identificar o sabor de cada alimento.

Enfim, introdução alimentar é muito mais do “o que” será ofertado! É um momento de aprendizado e diversão! Divirta-se e deixe seu bebê se divertir no momento da refeição. Dê ao seu bebê a oportunidade de achar o momento de comer super gostoso e agradável e crie junto com ele uma relação super positiva, gostosa e de paz com a comida!!!

Referências:

  • Rozin P. Human food selection: the interaction of biology, culture and individual experience.

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Dez passos para uma alimentação saudável. Guia alimentar para crianças menores de dois anos, Brasília: Ministério da saúde, 2002.

  • Fomon SJ. Nutrition of normal infants. St Louis, MO: Mosby-Yearbook; 1993.

  • Birch LL, Birch D, Marlin D, Kramer L, Effects of instrumental eating on childre´s food preferences. Appetite. 1982; 3:125-34.

  • Newman J, Taylor A. Effect of a means: end contingency on Young children´s food preferences. J Exp child Psychol. 1002;64:200-16.

  • ALVARENGA, Marle et al. Nutrição Comportamental. Barueri, São Paulo. Manole, 2015.

  • Rapley, Gill; Murkett, Tracey. Baby-led weaning: helping your baby to love good food. London: Vermilion, 2008.

  • Ebook, Como criar um relacionamento positivo com a comida desde a infância. Nathália Petry.

  • Batsell RW, Brown AS, Ansfield ME, Paschall GY. You will eat all of that!: A retrospective analysis of forced consumption episodes. Appetite. 2002;38:211-9.

  • Galloway AT, Fiorito LM, Francis LA, Birch LL. ‘Finish your soup’: Counterpropuctive effects of pressuring children to eat on intake and affect. Appetite. 2006;46:318-23.

  • Neumark-Sztainer D. “I’m, Like, SO Fat!”: Helping your teen ,make healthy choices about eating and exercise in a weight-obesessed world. New York: Guilford Press; 2005.


 
 
 

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