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Quais são as responsabilidades dos pais e das crianças na hora de comer?

  • Débora Fadoni
  • 18 de jan. de 2018
  • 5 min de leitura

Dar autonomia para o bebê ou à criança em relação a sua própria alimentação pode contribuir muito para o desenvolvimento de um bom relacionamento com a comida. Existem alguns aspectos nesta relação que não são de responsabilidade dos pais, e sim das crianças, e estes aspectos variam conforme o desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional da criança. Entender e confiar que a criança pode e deve ter suas responsabilidades no momento das refeições, além de tirar o peso dos pais de se sentirem totalmente responsáveis pela alimentação da criança, pode ser crucial para que a criança desenvolva hábitos e atitudes alimentares saudáveis.

Essa divisão de responsabilidades, entre os pais ou cuidadores e a criança envolve vários aspectos. Veja abaixo o que é de responsabilidade dos pais e o que é de responsabilidade dos filhos, para promover um bom comportamento alimentar:

Responsabilidade dos pais:

  • Decidir que tipo de alimento será oferecido para a criança: a oferta de alimentos variados desde a introdução alimentar é imprescindível para a aceitação dos alimentos. Quanto mais contato a criança tiver com alimentos diferentes, mais segura ela se sentirá para experimentá-los. O paladar e o interesse pelos alimentos são desenvolvidos com o tempo e a aceitação pelos alimentos é aprendida através do contato com eles. A falta de variedade de alimentos e preparações (monotonia alimentar) é um fator que pode afetar o apetite e o interesse da criança pela comida (BIRCH, 1999).

  • Estabelecer horários e rotina para as refeições: não estou falando de uma rotina extremamente rígida, mas a organização de horários é importante para a criança estar com fome no momento da refeição. O apetite é variável e pode ser influenciado pela ingestão de alimentos na refeição anterior e pelo tempo entre as refeições (SBP, 2012).

  • Escolher o lugar onde as refeições serão feitas e em quais circunstâncias: por exemplo: combinar que as refeições serão feitas com todos sentados à mesa (nos momentos do dia em que isso é viável). Esse hábito é super importante e pode influenciar e qualidade e variedade alimentar, segundo Gillman (et al, 2009). Quanto ao uso de eletrônicos (TV, celulares) durante as refeições, o ideal é não utiliza-los, pois, desta forma, as crianças estarão mais atentas aos sabores, texturas, aromas e conseguirão identificar melhor o momento de saciedade (ALVARENGA, 2015).

  • Entender que existem várias fases nesse processo e que elas devem ser respeitadas: segundo o Manual de orientação para alimentação do pré escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria, após os dois anos de idade a criança inicia um período de diminuição de crescimento em relação aos dois primeiros anos de vida, diminuindo suas necessidades nutricionais e seu apetite. Essa fase pode trazer preocupação aos pais devido à diminuição do apetite e da quantidade de comida que a criança consome, o que pode levar os pais a tomarem atitudes como o uso inadequado de estimulantes de apetite, que podem contribuir e favorecer o desenvolvimento da obesidade futuramente. A consciência de que a diminuição do apetite neste momento é apenas uma fase comum pode diminuir muito a aflição dos pais.

  • Tornar o momento da refeição agradável: deixar a ansiedade, a preocupação e o estresse de lado e transformar a refeição em um momento gostoso de interação, união e alegria ajuda as crianças a associarem os alimentos a memórias e lembranças gostosas. Isso pode contribuir inclusive nas preferências alimentares dessas crianças.

  • Respeitar preferências e aversões das crianças: assim como nós, as crianças terão seus alimentos preferidos e os alimentos que não gostam. Devemos respeitar isso. Mas às vezes para aceitar um alimento a criança precisa experimentá-lo mais de 8 vezes. Então não desista na primeira vez. Prepare o alimento e ofereça para a criança várias vezes, use diferentes técnicas de cocção, diferentes temperos, antes de concluir que ela não gosta do alimento. E mesmo que isso aconteça, continue preparando e oferecendo. O paladar da criança é variável e ela pode vir a aceitar. Um estudo realizado por Birch (1999) evidenciou que a aversão a novos alimentos tende a diminuir conforme eles se tornam familiares e seguros para as crianças. Quando os alimentos são repetidamente expostos e provados pela criança, ela passa a se habituar ao seu sabor e tende a aceita-los.

  • Dar o exemplo, comendo o que você oferece para a criança: Existem alguns estudos evidenciando a influência do consumo de alimentos pelos pais na alimentação do filho. Em um deles, realizado por Petty (et al, 2013), se observou que crianças que comiam frutas e vegetais com mais freqüência tinham pais que frequentemente comiam esses alimentos.

  • Evitar categorizar os alimentos entre os que o filho gosta ou não gosta, entre saudáveis e não saudáveis, permitidos e proibidos: tente manter os alimentos neutros (sem julgamentos). Tendemos a valorizar o proibido e desvalorizar o permitido.

  • Confiar e respeitar as responsabilidades da criança!

Responsabilidades das crianças:

  • Escolher, entre os alimentos oferecidos, o que ela vai comer: dar autonomia para a criança escolher os alimentos que ela quer comer evita muito estresse na hora da refeição. Você pode pedir para ela experimentar, mas sem insistência e sem forçá-la a comer. Não deixe de preparar e oferecer alimentos variados, mas caso a criança não queria, respeite-a.

  • Decidir se vai ou não comer: respeite a fome da criança. Muitos adultos não conseguem mais perceber quando estão com fome por terem sido forçados a comer sem fome quando criança. Se a criança falar que não está com fome, respeite e ofereça a refeição novamente depois de um tempo.

  • Decidir quanto vai comer: a criança possui mecanismos internos de saciedade que determinam a quantidade que ela deve comer e somente ela pode identificar quando já está satisfeita. Insistir para que ela coma mais ou raspe o prato pode desregular esse mecanismo de saciedade e influenciar o consumo maior do que necessário e isso pode durar a vida toda.

  • Aprender a se comportar nas refeições: sentar à mesa, usar os talheres, mastigar de boca fechada e não falar enquanto come também são responsabilidades atribuídas ás crianças.

  • Respeitar as circunstâncias que são combinadas como: sentar á mesa para comer, não usar aparelhos eletrônicos enquanto come, respeitar horários para os lanches...

Confiar na autonomia da criança é contribuir para que ela viva em paz com comida!

Referencias:

  1. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. Manual de orientação para alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola. 3. ed. Rio de Janeiro: SBP;2012.

  2. Birch LL. Development of food preferences. Annu Rev Nutr.1999;19;41-62

  3. Petty ML, Escrivão MA, Souza AA. Preliminary validation of the Parent Maeltime Action Scale and its associacion with food intake in children form São Paulo, Brazil. Appetite. 2013;62:166-72.

  4. Gillman MW, Rifas-Shiman SL, Frazier AL, Rocket HRH, Camargo CA Jr, Field AE, et al. Family dinner and diet quality among older children and adolescents. Arch Fam Med. 2009;9:235-40.

  5. Blass EM, Anderson DR, Kirkorian HL, Pempek TA, Price I, Koleini MF. On the road to obesity. Television viewing increases intake of high-density foods. Physiol Behav. 2006;88:597-604

  6. Ogden J, Coop N, Cousins C, Crump R, Field L, Hughes S, et al. Distraction of food, the desire to eat and food intake. Towards an expanded model of midless eating. Appetite. 2013;62:119-26.

  7. Alvarenga, Marle et al. Nutrição Comportamental. Barueri, São Paulo, Manole, 2015.


 
 
 

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