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Por que as mulheres mentem a idade?

  • Geysa Koschnitzki
  • 1 de nov. de 2017
  • 4 min de leitura

Não é a toa que as mulheres mentem a idade. A sociedade vê o envelhecimento e o ganho de peso ao longo da vida da mulher como um desleixo, quase um delito. Talvez seja por isso que estamos sempre tentando parecer mais jovens e mais magras. Ter 60 anos é um problema, ter 40 anos é um problema, ter 30 também é um problema, principalmente se você ainda não se casou e teve filhos. Aparentemente não existe idade adequada para as mulheres depois dos 30! Ou até antes dos 30, quando você é jovem e bem sucedida e fica no ar a suspeita de que o seu sucesso possa ser fruto do seu poder de sedução e não do seu poder de realização.

As pessoas não lidam bem com a passagem dos anos. De um modo geral não é só o medo da morte que nos angustia. Nós mulheres estamos cada vez mais preocupadas com o envelhecimento: não ter saúde, apresentar limitações físicas, solidão, preocupações financeiras... No entanto, a perda dos atributos físicos e do poder de sedução ainda constitui a maior fonte de angústia e sofrimento entre as mulheres.

Costumamos dizer que “não nos sentimos com tal idade”. Mas qual o problema de se sentir com 40 anos? Qual o problema de aparentar ter 50? Por que é tão ofensivo uma mulher engordar ou envelhecer e se sentir bem com o corpo e com a idade que tem? Por que quando alguém quer elogiar uma mulher sempre diz que ela parece ser mais nova ou mais magra? Será que se inventassem um tratamento mágico que mantivesse a aparência jovem e esbelta, envelhecer deixaria de ser um problema? Creio que não. A obsessão feminina pela juventude e pela magreza nos mostra o quanto o valor social da mulher ainda está atrelado ao seu poder de sedução.

No contexto atual, no qual a obesidade se tornou o estigma do que as pessoas não querem ter e, a magreza virou sinônimo de saúde e beleza, observa-se o uso frequente de métodos inadequados de controle de peso, além da presença de hábitos, crenças e sentimentos disfuncionais em relação à alimentação. O hábito de pular refeições, a restrição constante de calorias e de nutrientes, a necessidade de controle extremo da alimentação, a presença de compulsões alimentares e/ou o sentimento de culpa após o consumo de um alimento que julga “proibido”, são comportamentos denominados “comportamentos de risco” para transtornos alimentares (TA), o que podemos chamar de “comer transtornado”.

Precisamos ficar atentos, pois a ansiedade grande diante do medo de engordar é o “motor de funcionamento” de muitos TA. Na anorexia nervosa a pessoa se recusa a comer por medo de engordar. Na bulimia as pessoas usam mecanismos purgativos e compensatórios, como o uso de laxantes e diuréticos, indução do vômito, prática de atividade física extenuante ou até combinações destes métodos, também devido medo de engordar. As mulheres são as grandes vítimas dos TA, mais de 90% dos pacientes com anorexia e bulimia são do sexo feminino (ALVARENGA MS, 2013). Elas também são a maioria entre quem tem compulsão alimentar.

Atendo principalmente mulheres de todas as idades, dos 15 aos70 anos. Grande parte delas não sabe como o próprio corpo funciona, nas diferentes fases da vida. Não compreendem as mudanças e as encaram como algo a ser estancado, freado, controlado... O desenvolvimento humano traz uma série de alterações fisiológicas e metabólicas que, muitas vezes, causam bastante medo e ansiedade em quem as enfrenta. É importante se observar e se perceber para tentar entender melhor o que esperar do tempo.

Com o inicio da puberdade vêm a menarca, o crescimento dos seios, o aumento do depósito de gordura no corpo e o aparecimento de curvas que antes não existiam. É normal, fisiológico e esperado, que as meninas sintam os quadris, bumbum e pernas mais volumosos. O ganho de peso é uma parte absolutamente natural da puberdade, nesta fase ocorrem grandes transformações no corpo devido às alterações hormonais. Seus corpos estão amadurecendo para a reprodução e não há nada de errado nisso. Mas infelizmente, o que vejo no meu consultório, são meninas cada vez mais novas, sendo introduzidas no sofrido ciclo das dietas.

As alterações fisiológicas e corporais continuam ao longo da vida adulta da mulher. Ganhar peso na puberdade é normal, assim como ganhar um pouco de peso, gradativamente, ao longo da vida também é normal. Mas é na meia idade, período do climatério feminino, que o corpo armazena maior quantidade de gordura, principalmente na região abdominal. Todas estas mudanças, naturais e próprias do nosso ciclo de vida, são pouco compreendidas por muitas de nós. Por isso acho tão importante trabalhar com minhas pacientes o autoconhecimento e o aprendizado de como nosso corpo funciona e o que podemos esperar dele ao longo da vida.

O que precisamos entender é que o nosso corpo está em constante mutação. Para envelhecer basta estar vivo! Querer se manter sempre com a mesma aparência e com as mesmas curvas é se desconectar do seu corpo. A gente fica tão preocupada em não parecer “mais velha” ou em se manter sempre magra, que acabamos não ouvindo os sinais que o corpo nos dá. Então, no meio de toda essa necessidade de manter o manequim 36 e a pele lisinha, que tal dar uma parada para notar como o seu corpo reage à passagem do tempo, às situações da vida ou aos estímulos físicos que ele recebe? Para se reconectar com o corpo é preciso autoconhecimento, e conhecer a si mesmo em profundidade é um dos trabalhos mais difíceis que faremos em toda a nossa existência, mas também é um dos mais importantes e gratificantes. Ao tentar perceber, um pouquinho a cada dia todas essas mudanças, conseguimos chegar à velhice com mais tranquilidade e menos sofrimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALVARENGA, MARLE et al. NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL. Barueri, São Paulo, Manole, 2015.

ALVARENGA MS,Lourenço BH, Philippi ST, Scagliusi FB. Disordered eating among Brazilian famele college students. Cad Saúde Pública. 2013;29:879-88.

WOLF, Naomi. O Mito da Beleza. 1992 – Ed. Rocco.

LIEVEGOED, Bernard. Fases da Vida, Crises e Desenvolvimento da Individualidade. 2007 – Ed. Antroposófica.


 
 
 

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